quinta-feira, 31 de março de 2011

DOUTRINAS ESTUDE E SEJA EDIFICADO

DOUTRINA

Há, de fato, uma necessidade de estudar doutrina? Não basta que eu simplesmente ame a Jesus? Para algumas pessoas, a doutrina não só é desnecessária, como também indesejável, podendo ser facciosa. Há, no entanto, algumas razões pelas quais tal estudo não é opcional:

1. Crenças doutrinárias corretas são essenciais no relacionamento entre o cristão e Deus. Assim, por exemplo, o autor de Hebreus disse: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxime de Deus e creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). Também importante para um relacionamento adequado com Deus é a crença na humanidade de Jesus; João escreveu: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1Jo 4.2). Paulo destacou a importância da crença na ressurreição de Cristo: “Se você confessar com a boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação” (Rm 10.9,l0, NIV).

2. A doutrina é importante por causa da ligação entre a verdade e a experiência. Nossa época atribui altíssimo valor à experiência imediata. Assim, muitos utilizam drogas por causa da excitação ou do estímulo que elas oferecem. As fantasias proporcionam experiências gratificantes para alguns. Mas, a longo prazo, nossa experiência é afetada pela realidade, aliás, depende dela. Uma pessoa que caia do último andar de um prédio alto pode gritar enquanto passa pelas janelas, durante a queda: “Estou conseguindo”; mas, por fim, os fatos alcançarão sua experiência. O simples sentimento agradável em relação a Jesus não pode ser divorciado da necessidade de saber se ele é genuinamente o Filho de Deus. A esperança quanto ao futuro depende de saber se ele ressuscitou e se nós vamos ressuscitar algum dia.

3. A compreensão correta da doutrina é importante porque hoje há muitos sistemas de pensamento religiosos e seculares que disputam nossa devoção. O marxismo, a base do comunismo, exigiu por longo tempo a fidelidade de muitos. Abundam filosofias e psicologias populares de auto-ajuda. Entre as opções religiosas há grande número de seitas e cultos, além de enorme variedade de denominações cristãs. E religiões alternativas são encontradas não só em outros países, mas também possuem um número significante de adeptos nos Estados Unidos.

Não se trata, portanto, de uma questão simples de saber se alguém deve crer, mas em que deve crer. Diz-se que a maneira de lidar com as várias alternativas é fazer uma refutação minuciosa e uma exposição sistemática de suas falhas. Uma abordagem positiva em que se ensinam os pontos de vista do cristianismo parece, no entanto, preferível. Essa abordagem fornece uma base para avaliação das posições alternativas. Pense, como uma analogia, que, no treinamento de agentes para reconhecer dinheiro falso, o Departamento de Tesouro dos Estados Unidos não usa inúmeras notas falsificadas, mas, sim, os expõe continuamente ao dinheiro americano genuíno, até que conheçam seu tato e aparência. No final, eles são capazes de detectar uma imitação, não meramente pela presença de elementos estranhos, mas também pela falta de elementos corretos ou alguma variação neles.


Predestinação — Significado no Novo Testamento


Expressão grega: prohorizo.

Predestinar significa “marcar de antemão”, e “o estabelecimento de um limite, ou de limites, algo feito de antemão.” Nossa palavra em português “horizonte” é derivada da palavra grega,prohorizo. O destino “final” ou o “horizonte” do cristão foi estabelecido por Deus desde toda a eternidade: a ser feito como Seu Filho.

O ímpeto do propósito eterno de Deus veio do desejo de Seu coração para ter muitos filhos e filhas feitos como o Seu Filho unigênito. No amor, muitas pessoas que foram predestinados para serem Seus filhos honrados, não por seus méritos próprios, mas em virtude de estar no Filho (Ef 1:4-5).

Observe como muitas vezes em Efésios 1 Paulo fala da posição do crente “nele.” Fora de Jesus, o Filho, ninguém poderia ser um filho ou filha de Deus e ninguém pode ser agradável ao Pai. Estes filhos devem todos os seus privilégios divinos a Jesus, aos filhos agraciados nEle (Efésios 1:6). Paulo fornece a melhor explicação sobre “predestinação” em Romanos 8:28-30, citado da seguinte forma: “E sabemos que Deus faz com que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito. Para quem de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos, e aos que predestinou, a esses também chamou, e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.”

Versículos chave
Romanos 8:29-30, Atos 4:28, Efésios 1:5, 11

Observe como as palavras “predestinou”, “chamou”, “justificou”, e especialmente “glorificou” em Romanos 8:29 e 30 estão no passado. Isso é porque Deus, de Sua perspectiva eterna, vê esse processo como tendo sido já concluído. Do ponto de vista de Deus, os crentes já foram glorificados porque Ele os vê como Jesus. Mas ainda assim, na realidade do tempo, os crentes devem ser submetidos ao processo de ser conformados à imagem de Cristo. Deus está fazendo todas as coisas cooperarem para o bem em nossas vidas, que somos chamados segundo o Seu propósito, e Seu objetivo é conformar cada crente à imagem de Seu Filho amado. Que destino!


Ressurreição — Significado no Novo Testamento

Expressão Grega: anastasis

A ressurreição de Cristo é o ponto central do cristianismo. Tão importante foi a ressurreição para Paulo que ele uni tanto a pregação e a fé sobre a sua validade. Ele considerou que o cristianismo sem a ressurreição seria vazio e sem sentido (1 Coríntios. 15:12-19). A ressurreição de Cristo é o pressuposto de todas as verdades do Novo Testamento e experiências. Renascer para uma esperança viva é baseada na ressurreição (1 Ped. 1:3). Ressurreição e regeneração estão intimamente ligadas nas Escrituras da mesma forma que a crucificação e o resgate foram uma unidade inseparável. Como redenção não era possível sem a crucificação de Cristo, a regeneração de toda a pessoa e a criação não é possível sem a ressurreição de Cristo. A Escritura diz claramente que viemos a nascer de novo através da ressurreição de Cristo (1 Ped. 1:23).

Depois que Cristo ressuscitou dos mortos, Ele chamou os discípulos de Seus irmãos (Mateus 28:10, João 20:19), e declarou que Seu Deus era o Deus deles, Seu Pai e o Pai deles. Através da ressurreição, os discípulos tornaram-se os irmãos de Jesus, possuindo a mesma vida divina e sendo um com o mesmo Pai. Como o primogênito dentre os mortos (Col. 1:17; Apocalipse 1:18), Jesus Cristo tornou-se o “primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8:29). As Escrituras ainda nos dizem que todos os crentes foram incluídos com Cristo na Sua ressurreição. Paulo declarou: “Assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos” (1 Coríntios. 15:21). Isso mostra que a ressurreição de Cristo incluía “a ressurreição dos crentes” para a vida eterna. Quando Ele se levantou, muitos levantaram-se com Ele, pois eles estavam unidos com Ele na Sua ressurreição (Romanos 6:4-5; Ef. 2:6; Cl 3:1).

Os versículos anteriores falam dos ganhos espirituais da ressurreição. Os cristãos também estão contados uma ressurreição física. Paulo olhou para o dia do Senhor, quando os mortos em Cristo seriam levantados e aqueles que ainda estavam vivos se juntariam aos mortos na vitória final sobre a morte e o pecado (1 Tessalonicenses. 4:15-18). Não havia dúvida em sua mente de que essa ressurreição era uma expectativa gloriosa, que envolvia algum tipo de corpo personalizado, e que este corpo não seria um corpo natural finito, mas espiritual e eterno (1 Coríntios. 15:35-44).

Versículos chave
Romanos 6:5; 1 Coríntios 15:12-13, 42

O ensinamento de Paulo sobre a ressurreição de um corpo físico vai contra o pensamento grego da época. Os gregos desenvolveram uma doutrina da imortalidade da alma. O corpo foi considerado como sendo uma peça descartável física exterior, enquanto a alma estava relacionada às formas imortais e sustentada de Era em Era. Não é de admirar que Paulo tivesse um momento difícil pregando aos atenienses (Atos 17:16-32).



Batismo pelos Mortos — Significado Bíblico

Primeira Coríntios 15:29 permanece um enigma, apesar de mais de trinta “explicações” terem sido sugeridas. Frases alternativas substitutas são batismo dos “espiritualmente mortos”, “mortos”, “em memória dos que partiram”, ou outros, o que apenas multiplica os problemas. Os Batismos Vicários para o benefício dos mortos, praticados à margem do cristianismo do segundo século, ilustram a influência deste versículo, mas não na acepção de Paulo. Paulo está afirmando que se Jesus não ressuscitou, então a fé cristã, a pregação, a remissão, a esperança, são todos vãos, assim é o “batismo pelos mortos.” Ele não pode significar o batismo cristão, pois nenhuma das suas condições ou benefícios, como Paulo expõe-nos, pode ser afirmados dos mortos. Além disso, a seguinte frase (“E quanto a nós...” diz, “E nós mesmos...”) dissocia Paulo e seus colegas da prática.

Se os cristãos docéticos infectaram a igreja de Corinto, eles podem ter aceitado o batismo pelas almas: mas como provar a ressurreição corporal? Da mesma forma, alguns ritos dionisíacos e algumas práticas das religiões místicas foram realizadas para garantir o acesso, e caminhada segura no mundo espiritual, mesmo para quem já está morto. E Paulo poderia argumentar o paralelo pagão sem condená-los imediatamente (ver, por exemplo, 1 Coríntios 10:20-22). Mas essa analogia, novamente, não implica necessariamente a ressurreição corporal. No entanto, mesmo como um fariseu, Paulo não poderia conceber uma imortalidade sem corpo, deixando a personalidade sobrevivente incompleta (veja 2 Coríntios 5:1-4). Será que ele então está argumentando que até os pagãos, se o seu batismo pelos mortos for bem compreendido, testifica inconscientemente a ressurreição do corpo?

[N do T. A Enciclopédia cita o artigo da Easton, que diz:]

Apenas mencionado em 1Cor 15:29 [ou seja, a expressão bíblica em consideração. - N do T]. Esta expressão, utilizada pelo apóstolo, pode ser equivalente ao dito: “Aquele que passa por um batismo de sangue, a fim de participar de uma igreja glorificada, que não tem existência [ou seja, se os mortos não ressuscitam], sendo isso tolice.” Alguns também consideram a declaração aqui como uma alusão à prática estranha que começou e prevaleceu em Corinto, em que uma pessoa era batizada em lugar dos outros que morreram antes de serem batizados; com isso se esperava que alguns dos benefícios do rito seria estendido ao morto. Isto, eles acreditam, pode ter sido um dos costumes errados para o qual Paulo foi para Corinto afim de “pôr em ordem”.



Batismo com Fogo — Significado na Bíblia

Ao passo que João Batista pregava no deserto da Judéia, ele declarava: “Eu vos batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim virá um que... vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (cf Mt 3:11;. Luc 3:16).

Ao longo da Bíblia, muitas vezes o fogo representa o juízo (Gn 19:24, 2 Reis 1:10; Amos 1:4-7, Mt 7:19, 2 Tessalonicenses 1:8; Tiago 5:3), incluindo o castigo eterno (Mt 18: 8; Judas 7). Mas também pode ter um efeito positivo sobre a purificação do povo de Deus (Is 1:25; Zc 13:9; Mal 3:2-3; 1 Coríntios 3:13-15, 1 Pedro 1:7; Ap 3:18) .

No contexto da pregação de João, é natural associar o batismo de fogo com o julgamento (cf. Mt 3:10, 12, Lucas 3:9, 17). Por outro lado, João é o primeiro a se dirigir aos crentes, aqueles que estão recebendo o seu batismo em água. Então, alguns acham que as línguas de fogo no Pentecostes é o cumprimento de sua profecia. Mas a construção gramatical em grego (o uso de uma preposição para governar os dois objetos) é mais naturalmente como referindo-se a apenas um batismo que envolve tanto a bênção e julgamento (cf. Isa 4:4). O Pentecostes pode muito bem representar as primícias de purgação para os crentes, mas o batismo não está completo até que todas as pessoas experimentem o julgamento final.


J. D. G. Dunn, Baptism in the Holy Spirit; NIDNTT, 1:652-57.



Cristologia — Estudo sobre Jesus Cristo

Jesus Cristo é a figura central que prenuncia o Antigo Testamento e o Novo Testamentoproclama como a profecia que se torna realidade. Por conseguinte, é de suma importância para compreender a descrição bíblica do Messias (Heb.: masiah; Gr.: christos), de chrio, “untar”, a quem Deus ungiu para resgatar Seu povo e criação.

Uma passagem chave que resume a interpretação do próprio Cristo ressuscitado e seu messianismo é a passagem de Emaús em Lucas 24:25-27: “Como sois tolos, e quão tardos de coração para crer em tudo o que os profetas disseram! Não tinha o Cristo que sofrer essas coisas e, em seguida, entrar na sua glória?” E começando por Moisés e todos os profetas em diante, explicou-lhes o que foi dito em todas as Escrituras sobre si mesmo.” No relato abreviado de Lucas extraído de uma mais longa e detalhada história circulada entre testemunhas na Igreja primitiva, Jesus afirma o Antigo Testamento como prelúdio para o Seu papel como o Cristo/Messias, destacando o seu sofrimento redentor e glorificação triunfal. Ele atesta a continuidade do Velho e do Novo e convida seus seguidores a ver “em todas as Escrituras as coisas sobre si mesmo.” Jesus também promete que os seus discípulos receberão o dom da memória confiável e interpretação exata (“Tudo isso eu vos disse, enquanto ainda convosco. Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que eu vos disse” (João 14:25-26, 15:26-27).


Doutrina da Eleição no Novo Testamento

Expressão Grega: eklektos

Todos os anos, os cidadãos americanos têm o direito de participar nas eleições. Este é o processo pelo qual os votos são expressos por um grupo de pessoas para escolher um representante. Um elemento da escolha é envolvido, uma vez que, habitualmente, há vários candidatos dos quais um deve ser escolhido. Quando o verbo grego eklektos, que significa “eleger”, é usado na Bíblia, normalmente tem Deus como seu sujeito. Ele é o único que faz as seleções.

Nos tempos do Antigo Testamento, Deus escolheu os filhos de Israel para ser Seu povo (Atos 13:17). Tornaram-se o Seu povo, não porque decidiram pertencer a Ele, mas porque Deus tomou a iniciativa e escolheu-os. Os mesmos pensamentos são encontrados no Novo Testamento. O povo de Deus é descrito como seus “eleitos” ou “escolhidos”. Jesus usou este termo quando falou de Seu retorno futuro, quando, como o Filho do homem, Ele vai reunir o povo de Deus (Marcos 13:20, 27). Jesus vai reivindicar os seus sofrimentos e paciência deles em esperar Sua vinda (Lucas 18:7). Em 1 Pedro 2:9, o povo de Deus é chamado de uma “nação eleita”.

Em Romanos 9-11, Paulo explica por que os gentios aceitaram o Evangelho, enquanto o povo de Israel, como nação, o rejeitou. Ele afirma que, no presente momento, há um “remanescente” de Israel como um resultado da escolha graciosa de Deus sobre eles. Esse grupo é chamado de “os eleitos.” Eles são o povo escolhido que tinham obtido o que era para Israel como um todo, enquanto a grande massa de pessoas não conseguiram obtê-lo, porque foram endurecidos, como resultado de seu pecado (Rm 11:5-7). No entanto, a escolha de Deus de Israel para ser Seu povo não foi cancelada. A maioria dos judeus se aliaram contra o Evangelho, e gentios podem receber as bênçãos de Deus em seu lugar, mas os judeus ainda são amados por Deus, e Deus não vai voltar atrás com a Sua vocação original deles (Rm 11:28). Por conseguinte, Paulo permanece confiante de que no devido tempo, haverá um retorno generalizado a Deus pelo povo de Israel.

Versículos chaves
Romanos 8:33; Colossenses 3:12; 2 Timóteo 2:10; Tito 1:1; 1 Peter 1:1.

Eklektos é geralmente encontrada no plural e refere-se tanto aos membros “do povo de Deus como um todo”, como às “pessoas em uma determinada igreja local.” A forma singular do verbo só é encontrado em Romanos 16:13 e 2 João 13. O uso do plural pode ser parcialmente explicado pelo fato de que a maioria das cartas do Novo Testamento são dirigidas a grupos de pessoas ao invés de indivíduos. Mais provavelmente, porém, o ponto é que a eleição de Deus diz respeito à criação coletiva de um povo e não a convocação de indivíduos isolados.


Doutrina da Regeneração no Novo Testamento

No ensinamento de Jesus a necessidade de regeneração tem um lugar de destaque, embora em nenhuma parte as razões sejam apresentadas. O Antigo Testamento tinha sucedido – e também a consciência Gentílica concordava com Ele – em convencer o povo dessa necessidade. A mais clara afirmação e explicação da doutrina da regeneração são encontradas na conversa de Jesus com Nicodemos. (Jo 3). Baseia-se (1) na observação de que o homem, mesmo o mais escrupuloso no cumprimento da Lei, está morto e, portanto, incapaz de “se habilitar” para as exigências de Deus. Só Aquele que deu a vida, no início, pode dar a vida espiritual, vida necessária para fazer a vontade de Deus. (2) O homem caiu de sua esfera virginal e divinamente designada, o reino do espírito, o Reino de Deus, e agora vive a vida na terrena perecendo. Somente com uma nova natureza espiritual transmitida a ele, é que pode ser “nascido de novo” (João 3:3, a Revised Version “de cima”, do grego ανωθεν, anothen), por ser “nascido do Espírito” (João 3:6, 8), ele pode viver a vida espiritual que Deus requer do homem. Estas palavras são uma exegese do Novo Testamento da visão de Ezequiel sobre os ossos mortos (Eze 37:1-10). É o “fôlego de Yahweh,” o Espírito de Deus, o único que pode dar vida aos mortos espiritualmente.

Mas, a regeneração, de acordo com Jesus, é mais do que a vida, é também purificação. Como Deus é puro e sem pecado, apenas os puros de coração podem ver Deus (Mat 5:8). Isso sempre foi reconhecido como impossível no mero esforço humano. Bildade o Suíta, e seus amigos, declararam cada um por sua vez, expressando pensamentos muito semelhantes (Jó 4:17; 14:4): “Como, pois, seria justo o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher? Eis que até a lua não resplandece, e as estrelas não são puras aos seus olhos. E quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é um vermezinho!” (Jó 25:4-6). Para mudar essa condição perdida, para dar nova vida, afirma Jesus a sua tarefa designada por Deus: “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Luc 19:10); “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10). Esta é a vida eterna, imperecível: “Eu lhes dou a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10:28). Esta vida é dada pelo próprio Jesus: “É o espírito que vivifica, a carne para nada aproveita: as palavras que eu vos disse são espírito e são vida” (João 6:63). Esta vida pode ser recebida na condição de fé em Cristo, ou por vir a Ele (João 14:6). Pela fé, o poder é recebido, que permite ao pecador vencer o pecado, para que “não peque mais” (João 8:11).

As parábolas de Jesus melhor ilustram esta doutrina. O filho pródigo é declarado como estando “morto” e depois “passando a viver novamente” (Lucas 15:24). A vida nova de Deus é comparada com a veste nupcial da parábola do casamento do filho do rei (Mat 22:11). O vestuário, o presente de convite do rei, tinha sido recusado pelos convidados insatisfeitos, que, em consequência, foram ‘expulso nas trevas exteriores’ (Mat 22:13). Finalmente, esta regeneração, esta nova vida, é explicada como o conhecimento de Deus e Seu Cristo: “E esta é a vida eterna, para que conheçam a Ti o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (João 17:3). Esta parece ser uma alusão à passagem em Oséias (Os 4:6): “O meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento: porque tu rejeitas o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim.”


Doutrina da Regeneração no Antigo Testamento

É bem sabido que nas porções anteriores do Antigo Testamento, e até certo ponto, durante todo o Antigo Testamento, a religião é considerada e mencionada mais como um poder nacional, cujos benefícios são amplamente visíveis, e com tangíveis bênçãos. A ideia de regeneração ocorre aqui, portanto - embora nenhuma expressão técnica tem ainda sido inventada para o processo - no primeiro sentido da palavra elucidada acima. Se as promessas divinas se referem ao fim dos tempos messiânicos, ou deverão ser realizadas em data anterior, todos eles referem-se à nação de Israel como tal, e somente aos indivíduos na medida em que são participantes dos benefícios concedidos à riqueza comum . Isto é ainda mais verdade onde se profetizou apenas bênçãos espirituais, como em Isa 60:21, Isa 60:22. A massa do povo de Israel, portanto, ainda não tinha consciência do fato de que as condições em que essas promessas divinas deviam ser obtidas são mais do que cerimônias ritualísticas. Logo, porém, grandes desastres, ameaçando derrubar a entidade nacional e, finalmente, o cativeiro e a dispersão que causaram funções de âmbito nacional a ser quase, se não totalmente, descontinuadas, auxiliaram no crescimento de um sentimento de responsabilidade individual ou pessoal diante de Deus. O pecado de Israel é reconhecido como o pecado do indivíduo, que pode ser removido somente pelo arrependimento individual e limpeza. Esta é a melhor vista do apelo excitante dos profetas do exílio, onde frequentemente a necessidade de uma mudança de atitude para com o Senhor é pregada como um meio de regeneração. Isso não pode ser entendido senão como uma volta do indivíduo para o Senhor. Aqui, também, sem cerimônia ou sacrifício, o que é suficiente, mas sim uma interposição da graça divina, que é representada sob a figura de uma lavagem e aspersão de toda a iniquidade e do pecado (Isa 1:18; Jer 13:23). Não é agora possível acompanhar na íntegra o desenvolvimento dessa ideia de limpeza, mas já em Isa 52:15 a aspersão de muitas nações, é mencionada e é logo entendida no sentido de “batismo” de prosélitos que tinham de passar antes da sua recepção na aliança de Israel. Era o símbolo de uma limpeza radical como a de um bebê “recém-nascido”, que foi uma das designações do prosélito (compare Sal 87:5; ver também o Yebhāmōth tratado 62a). Seria de estranhar que Israel, que tinha sido culpado de muitos pecados dos Gentios, precisasse de um batismo de aspersão similar? Isto é o que Eze 36:25 sugere: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.” Em outras passagens a limpeza e refino pelo poder do fogo são citadas (e.g Mal 3:2), e não há dúvidas de que João Batista encontrada disso a base para sua prática de batizar os judeus que viam a ele (João 1:25-28 e paralelo).


A conversão de Israel para Deus era necessariamente concebida como uma mudança ativa de atitude para com Ele, em outras palavras, a aspersão com água limpa, como um sinal externo; era o emblema de um coração puro. Foi Isaías e Jeremias, que chamaram a atenção para isso (Isa 57:15; Jer 24:7; 31:33-35; 32:38-40, et passim). Aqui novamente é feita referência a pessoas, não só ao povo em geral (Jer 31:34). Esta renovação prometida, e tão amorosamente oferecida pelo Senhor, devia ser o símbolo de uma nova aliança entre Deus e o Seu povo (Jer 31:31; Eze 11:19-21; 18:31, 18:32; 37:23, 24 ). A renovação e limpeza mencionada aqui é, na realidade, nada mais do que aquilo que Deut 30:6 tinha prometido, uma circuncisão do coração em contraste com a carne, o símbolo do antigo (Abraão) pacto de circuncisão (Jer 4:4) . Como Deus toma a iniciativa de fazer o pacto, a convicção de que o pecado tem raiz na depravação humana, pode ser eficazmente eliminado apenas pelo ato de Deus que renova e transforma o coração do homem (Os 14:4). Nisso vemos o testemunho de alguns dos melhores filhos de Israel e as filhas, que também sabiam que esta graça foi encontrada no caminho do arrependimento e humilhação diante de Deus. A expressão clássica desta convicção é encontrada na oração de Davi: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto [Magin: firme]. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teuEspírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.” (Sal 51:10-12). Jeremias coloca as seguintes palavras na boca de Efraim: “converte-me Tu, e eu vou ser transformado” (Jer 31:18). Mais clara do que qualquer passagens do Antigo Testamento, João Batista, precursor de Cristo e da tocha do último tempo da Antiga Aliança, falou do batismo, não de água, mas do Espírito Santo e do fogo (Mateus 3:11; Lucas 3:16; João 1:33), levando assim à realização da prefiguração do Antigo Testamento que se tornou possível pela fé em Cristo.


Doutrina da Adoção no Novo Testamento

Expressão Grega: huiothesia

A maioria das pessoas provavelmente nasceu em uma família amorosa do que adotado por uma. Mas no que diz respeito à família de Deus, tanto o nascimento e adoção, acontecem aos crentes de uma vez. Qualquer pessoa que crê em Jesus é nascido de Deus e também é aprovado por Deus em Sua família. A palavra grega para “adoção” vem de duas palavras juntas: huios, que significa “filho”, e thesis, que significa “uma colocação”. Assim , a palavra significa “colocação em filiação.” A palavra grega é um termo jurídico que indica que aos crentes têm sido dado todos os privilégios legais de serem filhos na família de Deus. Quando Deus adota os crentes como Seus filhos, Ele coloca o Espírito de Seu Filho em seus corações para que se tornem, de fato, seus filhos natos. Como tal, eles não são apenas “adotados” (no sentido da palavra que agora transmite), mas verdadeiramente “gerados” por Deus. Deus faz “filhos de Deus” de “filhos dos homens.” O termo “filhos de Deus”, uma expressão comum na King James, inclui os fiéis de ambos os sexos (cf. 2Cor. 6:18; compare Isa. 43:6) .

Versículos Chaves
Romans 8:15; Gálatas 4:5; Efésios 1:5

De acordo com o Novo Testamento, todas as pessoas são pecadores por natureza e, portanto, são chamados de “filhos da ira” (Efésios 2:3, KJV). Mas pela graça de Deus, aqueles a quem Deus ama, tornam-se filhos de Deus (1 João 3:12). É do amor de Deus e também da obra do Filho de Deus que os crentes podem ser adotados na família de Deus. Enquanto os crentes são chamados filhos de Deus nas Escrituras (cf. Mt. 5:9; Rom. 8:14, 19; Gal. 3:26), o título “Filho de Deus”, quando usado para Jesus Cristo, refere-se a divindade de Cristo (Mat. 11:25-27; 16:16-17). Jesus Cristo é um em substância e glória com Deus Pai. Como a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Cristo é distinto do Pai como “o Filho unigênito.” Os crentes em Cristo, embora “adotados” como filhos de Deus, não são iguais com o incriado Filho Divino. No entanto, através do trabalho do Filho, Deus tem aprovado os pecadores em sua família (Ef 1:4-6). Através de Sua morte e ressurreição, Jesus destruiu o pecado e a sua pena de morte, e cobriu os crentes com a justiça necessária para o status de serem filhos de Deus. Os crentes são os beneficiários da obra de Cristo. Eles são transformados em herdeiros de Deus e se tornam co-herdeiros de Cristo (Rm 8:17). E como filhos de Deus, eles recebem o Espírito, que garante que eles são de fato filhos de Deus (Romanos 8:15; Gal. 4:6). Eles podem legitimamente chamar Deus: “Pai” (Rm 8:15-16). Embora os cristãos já estejam adotados na família de Deus (1 João 3:1), eles não irão sentir o que realmente significa ser filhos de Deus até que sejam ressuscitados dentre os mortos (Rm 8:21-23). Só então os crentes receberão sua herança integral de seu Pai Divino, só então eles desfrutarão de viver permanentemente em Sua presença.


O Livro da Vida na Bíblia

ספר חיּים, sepher hayyim; η βίβλος της ζωης, he bíblos tes zoes, “livro da vida”: A frase é derivada do costume de manter os registros genealógicos antigos (Neemias 7:5, 64; 12:22, 23) e dos cidadãos que se inscreviam para diversos fins (Jer 22:30; Eze 13:9). Então, Deus é representado como tendo um registo de todos os que estão sob seus cuidados especiais e tutela. Ter o nome apagado do Livro da Vida é o mesmo que ser cortado do favor de Deus, sofrer uma morte prematura, assim como quando Moisés implora para que ele seja apagado do livro de Deus – para que ele pudesse morrer, ao invés de Israel ser destruído (Exo 32:32; Sal 69:28). No Novo Testamento é o registro dos justos que estão para herdar a vida eterna (Fil 4:3; Ap 3:5; 13:8; 17:8; 21:27). Nos escritos apocalípticos, há a concepção de um livro, ou de livros, que são guardados com Deus, e sobre o qual a decisão final deve ser baseada (Dan 7:10; 12:1; Ap 20:12, 20:15; comparar com o Livro de Jubileu 39:6; Ap 19:9).


O que Significa Nascer de Novo?

O que significa nascer de novo? Essa expressão se refere á uma purificação do pecado que Deus dá a todos os que creem no Seu Filho através do Espírito Santo. É absolutamente necessário para uma pessoa nascer de novo, a fim de entrar no reino de Deus. No trecho central no Novo Testamento sobre o novo nascimento (João 3), Jesus diz a Nicodemos, um membro do Conselho Governamental Judaico, que uma pessoa não entra no reino de Deus se não nascer de novo. A alternância entre os pronomes no singular e plural no grego dentro da passagem, mostra que Jesus está falando a Nicodemos pessoalmente e representativamente. A necessidade do novo nascimento não é apenas verdadeiro no caso de Nicodemos, mas de todo o Sinédrio, dos judeus, e, por extensão, de todas as pessoas. Alguns consideraram o novo nascimento um processo de experiências que uma pessoa passa, mesmo durante um período de anos. Tal interpretação não é congruente com a do verbo grego nesta passagem. O tempo aoristo sugere que o novo nascimento é um evento, em vez de um processo. Antes de um determinado momento, uma pessoa não é nascida de novo, ou regenerada; depois desse ponto, a pessoa é. Provavelmente a questão de mais difícil interpretação em João 3 é encontrado no versículo 5. O melhor ponto de vista parece ser a de que “nascer da água e do Espírito” apresenta um pensamento unificado para a purificação do pecado, algo sobrenatural que Deus através dos efeitos do Espírito sobre todos os que crêem no seu Filho passam. Esta combinação de água e Espírito é um reflexo de Ezequiel 11, 36 e Jeremias 31. Nestas passagens do Antigo Testamento o Espírito de Deus é visto como fazendo um trabalho revolucionário na vida do povo de Deus na Era da nova aliança. Há uma série de razões de que esta interpretação é preferível.

O uso de uma preposição grega (ek) antes dos dois substantivos indicam uma relação estreita entre eles. Água e Espírito são complementares e não contraditórios entre si. Ele não vê a água como uma referência ao batismo cristão em um tempo no ministério de Jesus, quando o batismo não era ainda uma realidade histórica. Ele se encaixa bem ao contexto em termos de conhecimento de Nicodemos com o Antigo Testamento e da necessidade de alguma inteligibilidade da sua parte. Ele interpreta “nascer da água e do Espírito” como equivalente a “nascer de Deus”, um termo comum de João (João 1:13; 1 João 2:29, 3:7-10, 4:7, 5:4). Ela comporta bem com a ênfase em espírito e verdade na literatura joanina. Finalmente, ela é coerente com o uso da água no Antigo Testamento, para simbolizar a renovação e limpeza. Se crentes do Velho Testamento possuíam o novo nascimento é uma pergunta difícil. Nenhum texto do Antigo Testamento afirma explicitamente que os crentes do Antigo Testamento nasceram de novo ou foram regenerados. Há uma relativa ausência de uma teologia desenvolvida do Espírito no Antigo Testamento. Mas, dada a universalidade da necessidade do novo nascimento, pode-se argumentar que o ensinamento de Jesus sobre a necessidade absoluta do novo nascimento para entrar no reino de Deus analogicamente exige que os crentes do Antigo Testamento também tiveram que ter a vida divina comunicada para eles através do Espírito de Deus. Muitos comentaristas afirmam que o batismo da água mencionado em Tito 3:5 se referente a palavra “lavar”. Com base na gramática grega, no entanto, a tradução deve ser feita “a lavagem [produzida pela] regeneração e a renovação [produzida pelo] Espírito Santo”. Esta interpretação também é coerente com a tradução de João 3.

Primeira Pedro 1:23 acrescenta uma dimensão mais explícita para o meio pelo qual o novo nascimento é produzido: a mensagem pregada da verdade de Jesus Cristo. As palavras-chave em 1 Pedro 1:22-25 expandem e reforçam as palavras, referindo-se ao novo nascimento. O novo nascimento é, portanto, um ato soberano de Deus pelo Seu Espírito, no qual o crente é purificado do pecado e dado à luz espiritual para a casa de Deus. Ele renova o intelecto, a sensibilidade e vontade do crente, para que essa pessoa possa entrar no reino de Deus e fazer boas obras. Os santos do Antigo Testamento nasceram de novo quando eles responderam com fé à mensagem revelada de Deus; os santos do Novo Testamento, quando eles respondem pela fé a Jesus Cristo.





O que Jesus Ensinou Sobre os Anjos?

É certo que o nosso Senhor aceitou os principais ensinamentos do Antigo Testamento sobre os anjos, assim como a crença judaica posterior em anjos bons e maus. Ele fala dos “anjos no céu” (Mat 22:30), e do “diabo e seus anjos” (Mat 25:41). De acordo com o nosso Senhor, os anjos de Deus são santos (Mar 8:38), eles não têm sexo ou desejos sensuais (Mat 22:30), eles têm grande inteligência, mas não sabem a hora da Segunda Vinda (Mat 24:36); eles carregam (em uma parábola) a alma de Lázaro para o seio de Abraão (Luc 16:22), eles poderiam ter sido convocados para ajudar nosso Senhor, se ele tivesse pedido (Mat 26:53); eles irão acompanhá-lO na Segunda Vinda (Mat 25:31) e irão separar os justos dos ímpios (Mat 13:41, 49). Eles veem com os olhos simpáticos a sorte dos homens, alegrando-se no arrependimento de um pecador (Luc 15:10; comparar 1Ped 1:12; Ef 3:10; 1Co 4:9); e eles vão ouvir o Filho do Homem confessar ou negar os que têm confessado ou negado Ele diante dos homens (Luc 12:8 m). Os anjos da presença de Deus, que não parecem corresponder à nossa concepção de anjos da guarda, estão especialmente interessados nos pequeninos de Deus (Mat 18:10). Finalmente, a existência dos anjos está implícita na Oração do Senhor, “Tua vontade seja feita, como no céu, assim na terra” (Mat 6:10).



Morte, Alma e Ressurreição no Judaísmo
Uma das crenças básicas do moderno judaísmo é a de que o homem tem uma alma imortal que sobrevive à morte do corpo. Mas, origina-se isto da Bíblia? A Enciclopédia Judaica (em inglês) admite francamente: “Foi provavelmente sob a influência grega que a doutrina da imortalidade da alma se introduziu no judaísmo.” Mas isso criou um dilema doutrinal, conforme a mesma fonte declara: “Basicamente, as duas crenças, a ressurreição e a imortalidade da alma, são contraditórias. A primeira se refere a uma ressurreição coletiva no fim dos dias, i.e., que os mortos que dormem na terra se levantarão da sepultura, ao passo que a outra se refere ao estado da alma após a morte do corpo.” Como foi resolvido esse dilema na teologia judaica? “Sustentava-se que quando o indivíduo morria a sua alma ainda vivia em outro domínio, ao passo que o seu corpo jazia na sepultura para esperar a ressurreição física de todos os mortos aqui na terra.”

O professor universitário Arthur Hertzberg escreve: “Na própria Bíblia [hebraica] a arena da vida do homem é este mundo. Não existe doutrina de céu e inferno, apenas um crescente conceito de uma derradeira ressurreição dos mortos no fim dos dias.” Trata-se de uma simples e correta explicação do conceito bíblico, a saber, que “os mortos nada sabem . . . Pois não existe ação, nem raciocínio, nem aprendizagem, nem sabedoria no Seol, para onde tu vais”. — Eclesiastes 9:5, 10; Daniel 12:1, 2; Isaías 26:19.

Segundo a Enciclopédia Judaica, “no período rabínico, a doutrina da ressurreição dos mortos é considerada uma das doutrinas centrais do judaísmo” e “deve ser distinguida da crença na . . . imortalidade da alma”. Hoje, contudo, ao passo que a imortalidade da alma é aceita por todas as facções do judaísmo, a ressurreição dos mortos não é.

Em contraste com a Bíblia, o Talmude, influenciado pelo helenismo, está repleto de explanações e histórias e até mesmo de descrições da alma imortal. Posterior literatura mística judaica, a Cabala, vai ao ponto de ensinar a reencarnação (transmigração de almas), que é basicamente um antigo ensinamento hindu. Atualmente, em Israel, isto é amplamente aceito como ensinamento judaico, e desempenha também um importante papel na crença e na literatura hassídica. Por exemplo, Martin Buber inclui em seu livro Histórias dos Hassidins— Os Mestres Posteriores (em inglês) uma história a respeito da alma, da escola de Elimeleque, um rabino de Lizhensk: “No Dia de Expiação, quando o rabino Abraão Yehoshua recitava o Avodá, a oração que reproduz o serviço do sumo sacerdote no Templo de Jerusalém, e chegava ao trecho: ‘E assim ele falou’, ele jamais dizia essas palavras, mas sim: ‘E assim eu falei.’ Pois ele não se esquecera do tempo em que a sua alma estava no corpo de um sumo sacerdote em Jerusalém.”

O judaísmo Reformista tem ido ao ponto de rejeitar a crença na ressurreição. Tendo removido essa palavra dos livros de oração reformistas, reconhece apenas a crença na alma imortal. Quão mais claro é o conceito bíblico, conforme expresso em Gênesis 2:7: “O SENHOR Deus formou o homem do pó do solo, e soprou em suas narinas o fôlego de vida; e o homem tornou-se uma alma vivente.” (JP) A combinação do corpo e do espírito, constitui “uma alma vivente”. (Gênesis 2:7; 7:22; Salmo 146:4) Inversamente, quando o humano pecador morre, a alma morre. (Ezequiel 18:4, 20) Assim, ao morrer, o homem cessa de ter qualquer existência consciente. A sua força de vida retorna a Deus que a deu. (Eclesiastes 3:19; 9:5, 10; 12:7) A esperança realmente bíblica para os mortos é a ressurreição — hebraico:tehhiyáth hammethím, ou “revivificação dos mortos”.

Ao passo que essa conclusão talvez surpreenda até mesmo muitos judeus, a ressurreição tem sido a esperança real dos cristãos verdadeiros por milhares de anos. Uns 3.500 anos atrás, o fiel e sofredor Jó falou de um tempo futuro em que Deus o levantaria do Seol, ou sepultura. (Jó 14:14, 15) O profeta Daniel também recebeu a garantia de que seria levantado “no fim dos dias”. — Daniel 12:2, 12 (13, JP).

Não há base nas Escrituras para se dizer que aqueles fiéis hebreus criam ter uma alma imortal que sobreviveria para um outro mundo. Eles claramente tinham suficientes motivos para crer que o Soberano Senhor, que conta e controla as estrelas do universo, lembrar-se-ia também deles na época da ressurreição. Haviam sido fiéis para com Ele e Seu nome. Ele lhes seria fiel. — Salmo 18:26; 147:4; Isaías 25:7, 8; 40:25, 26.
Baixar A doutrina Bíblica da Eleição

Eleição! Que palavra bendita! Que doutrina gloriosa! Quem não se alegra ao saber que foi escolhido para uma tão grande bênção! A eleição é para a salvação – a maior de todas as bênçãos. E é estranho dizer que é uma verdade negligenciada, mesmo por muitos que dizem crer na mesma. Outros têm um sentimento de repulsa à simples menção desta verdade revelada na Bíblia, que honra a Deus e torna o homem mais humilde. Spurgeon disse: “Parece haver um preconceito arraigado na mente humana contra esta doutrina, e embora a maioria das outras doutrinas seja recebida por crentes professos, algumas com cuidado, outras com prazer, esta parece ser mais comumente negligenciada e rejeitada”. Se isto era verdade no tempo de Spurgeon, quanto mais o é em nossos dias. Com respeito a esta doutrina há um abandono alarmante da fé de nossos antepassados batistas. E por falarneste artigo de nossa fé, os batistas chegaram ao ponto de ter um credo calvinista e outro arminiano.


A DOUTRINA DOS REFORMADORES - A Autoridade Bíblica.

Foi sobre a tese do auto-testemunho da Bíblia que os Reformadores arquitetaram a sua teoria da Sagrada Escritura, precisamente porque antes e acima de tudo a sua teologia era uma teologia de fé-uma teologia revelada. Daí, o ponto de partida: a resposta da fé ao problema da mensagem bíblica, que aceitaram ipsis verbis e, em obediência à mesma, procuraram compreender a Bíblia, tal como a Bíblia se compreendia a si própria. Como se viu, o método da Reforma é considerado ilegítimo e fútil por todos os que julgam que a teologia deve assentar em bases puramente racionais. Mas os Reformadores foram teólogos da fé, utilizando apenas a razão em resposta e em obediência à revelação divina. Isto queria dizer que esses teólogos se comprometiam na fé a receber o testemunho da Palavra de Deus, mesmo no que se refere à sua existência e à sua natureza.

Os Reformadores acreditavam, pois, que a Bíblia fora outorgada por Deus, e nessas condições pelo mesmo Deus inspirada, tanto no conteúdo como na forma. Não que dessem qualquer passo fundamental, pois a Igreja da Idade Média seguia o mesmo ponto de vista; mas o certo é que em todas as suas obras, fácil é verificar uma aceitação total da inspiração e da autoridade da Bíblia. É o que se verifica, mesmo no caso de Lutero, assaz livre na utilização dos textos e na crítica de algumas seções individuais. Procura saber-se agora se Lutero era um crítico primitivo ou então o que aceitou, como inspirada, era não a redação da mensagem, mas apenas a mensagem, e nada mais. Diz-se que a opinião de Lutero era dos autênticos Reformadores, mas que pouco a pouco adulteraram-na alguns sucessores legalistas. Contra este modo de ver, porém, é de notar que Lutero freqüentemente exaltava a letra da Escritura e que, na maioria dos casos, a liberdade de crítica se estendia aos livros de cuja canonicidade tivesse sérias dúvidas. Dum modo geral, Lutero não foi além dos seus colegas Reformadores em matéria de assuntos bíblicos.

Apesar da inspiração e da autoridade, a Bíblia era já por si só suficiente em matéria de fé e de conduta. Seria exagero afirmar-se que os Reformadores arvoraram a Bíblia em única autoridade da Igreja; mas pode dizer-se que a consideraram suprema autoridade, da qual derivaram todas as outras autoridades, que por isso lhe estão sujeitas. Como outorgada por Deus, nada lhe é estranho no que respeita à salvação e à vida dos cristãos. Toda a base da doutrina e da crença da Igreja deve assentar num texto bíblico, ou em nítida dedução do mesmo. Os calvinistas foram mais longe, aproveitando-se da Bíblia para a organização do culto da Igreja, coisa que não fizeram os luteranos e os anglicanos, negando autoridade aos livros sagrados em tal matéria, ou seja, admitindo apenas o que não repugnasse às Escrituras.

A razão da insistência em tal supremacia da Bíblia, residia na preocupação em eliminar a doutrina medieval da autoridade da tradição e da Igreja em pé de igualdade com a Sagrada Escritura. Deu-se um outro passo em frente e na mesma direção, ao afirmar-se que a Bíblia tem de ser interpretada somente no sentido literal e não em conformidade com o quádruplo esquema da exegese medieval. Isto não quer dizer que seja impossível introduzir um outro sentido metafórico ou simbólico naquilo que, na realidade, não passa duma metáfora ou dum símbolo. Apenas se pretendia evitar um sentido literal exagerado nas afirmações vulgares da Escritura, a não ser que a própria Bíblia o determinasse expressamente, como por exemplo, interpretando a passagem do Mar Vermelho como uma figura do batismo, ou referindo a Cristo o sacerdócio do Velho Testamento. Permitiam-se comparações e imagens para edificação do espírito, mas não lhes era reconhecida qualquer autoridade em matéria de fé e de prática. Se, porventura, surgissem dificuldades de interpretação, buscar-se-ia uma solução adequada dentro das próprias Escrituras, de maneira que os textos mais obscuros pudessem ser compreendidos à luz de outros de mais fácil interpretação. Por duas razões era de certo relevo esta exegese: primeiro, porque se evitavam muitas confusões originadas pelo esquema medieval, de maneira a tornar possível a criação duma teologia genuinamente bíblica; em segundo lugar, porque eliminavam os intérpretes oficiais da Bíblia, os únicos que sabiam manejar a complicadíssima máquina do esquema quádruplo.

Os Reformadores aceitaram a inspiração e a autoridade de todas as partes da Bíblia canônica, embora a cada uma delas não fosse atribuído o mesmo grau de importância. O fato de se insistir na inspiração de toda a Bíblia canônica, tinha em vista alguns anabatistas, que não admitiam a inspiração de alguns livros do Velho Testamento. Mas os Reformadores depressa compreenderam que o Velho Testamento é uma parte essencial e importantíssima que dá testemunho de Jesus Cristo e da Verdade que nos salva. Daí o lembrarem que a doutrina moral do Velho Testamento é eternamente válida como expressão da vontade de Deus ao Seu Povo. Os princípios teológicos em que se assentam as relações de Deus com Israel são as mesmas em que se baseiam as Suas relações com os cristãos e com a Igreja Cristã. O Velho e Novo Testamento completam-se: um é a preparação, o outro a realização.

Todas as partes da Bíblia são dotadas de inspiração e de autoridade, -afirmam os Reformadores-mas nem todas do mesmo modo. A legislação mosaica do Levítico não tem o mesmo valor espiritual ou teológico que o Evangelho de João, ou até mesmo o Decálogo. De certo modo a Bíblia, podemos afirmá-lo, é semelhante à Igreja, como o corpo de Cristo. Todos os membros constituem o corpo e pertencem-lhe necessariamente, embora seja diferente a importância de cada um deles. Uns são mais utilizados que outros; uns de maior importância vital que os outros, de maneira a serem indispensáveis à subsistência do corpo. O mesmo se dá com a Bíblia. Embora sejam prejudiciais possíveis alterações, há que concordar que umas partes não são tão indispensáveis como outras. Recebida a mensagem do Evangelho, podemos ser cristãos só com um fragmento da Escritura; mas cristãos perfeitos, completos, totais, só por mercê e graça de Deus.

Surge, todavia, uma dificuldade, ao procurarmos distinguir entre a maior ou menor importância dos diferentes textos, pois algumas considerações meramente subjetivas ameaçam restringir ou talvez falsear a nossa maneira de ver. Tanto Zuínglio como Lutero foram autores de preciosas regras, que não diferem muito entre si: a importância dum texto depende da medida em que serve para aumentar a glória de Deus e revelar e exaltar Jesus Cristo. É por isso, que algumas partes da Bíblia fazem-no mais claramente que outras, em princípio consideradas como textos importantes da Escritura. Em resumo, todo o Livro Sagrado é de certo modo orientado para este duplo fim.

Os Reformadores acentuaram a importância da letra da Bíblia, mas não à custa da soberania do Espírito Santo na aplicação e no uso da sua mensagem. Na opinião dos Reformadores o Espírito Santo não era apenas o autor da Escritura, pois também determinou a aplicação da mesma àquele duplo fim, e deu ao crente uma persuasão interior da autoridade daquela mensagem como verdade revelada. Quanto ao primeiro destes pontos nada há a acrescentar, a não ser o seguinte: enquanto se admite a clareza dum texto bíblico, de fácil compreensão, portanto, por outro lado, para uma compreensão mais profunda, mais íntima, algo mais é necessário que a simples inteligência racional. Para bem se apreender a Escritura, requer-se aquela luz do Espírito Santo, que é para o indivíduo o complemento indispensável da revelação exterior de Deus.

Alguns teólogos modernos consideraram esta luz como verdadeira inspiração de acordo com a opinião dos Reformadores, ou seja, que a Bíblia é inspirada apenas enquanto o Espírito Santo se serve deste ou daquele texto para iluminar o crente. Mas na mente dos Reformadores parece haver mais de um vestígio que possa identificar a iluminação individual com a inspiração como tal. A Bíblia é um documento inspirado da revelação divina, quer este ou aquele indivíduo receba ou não o seu testemunho. A revelação e a sua manifestação duma forma escrita constituem ações objetivas. A iluminação pelo Espírito Santo é o complemento subjetivo destas ações no íntimo do crente e para a salvação deste. E como é Deus o Espírito Santo que nos dá o documento objetivo, também é Ele que efetua a iluminação subjetiva. Daí que a mensagem e a aplicação da mensagem pertencem ambas a Deus.

O fato de existir aquela iluminação interna é a suprema garantia da autenticidade do documento, quer na doutrina geral, quer no testemunho que apresenta de si próprio. Embora os Reformadores aceitassem a Bíblia pela fé, não desconheciam os problemas racionais que poderiam surgir, se bem que em nada se parecessem com os que atualmente se levantam. Muitas razões podiam já ser apresentadas a comprovar o bom acolhimento dado aos Livros Sagrados. Como Calvino, recorreriam às características que os assinalam como documento inspirado: a dignidade, o estilo literário, a antigüidade, a combinação da profundeza e simplicidade de conceitos, o poder de narração, a exatidão na previsão do futuro, etc.. Mas em última análise a razão profunda e real da crença é aquele conhecimento íntimo da verdade da Escritura, que necessariamente se encontra presente quando o Espírito Santo aplica à alma essa verdade. Quanto ao testemunho pessoal da Bíblia há a acrescentar a garantia íntima do Espírito Santo. Mas aquele argumento é racional apenas para o crente. Por outras palavras, a verdade do testemunho bíblico não pode ser apenas questão de debate intelectual ou acadêmico. É a experiência, é o íntimo de cada um que fala. É a fé, que supõe o Espírito Santo.

E foi assim, ao aceitar a supremacia do Espírito Santo, que os Reformadores se defenderam do literalismo morto e do racionalismo escolástico na sua interpretação das Escrituras, mantendo um alto conceito da Bíblia e da sua inspiração. É que acreditavam na Bíblia como verdade inspirada, e como a Palavra que o Espírito Santo nos confiou; palavra essa, que merece todo o nosso respeito e obediência. Sempre frisavam que Deus é Autor da Escritura, e a Voz divina que ouvimos, ao lermos os Sagrados Livros. É que a Bíblia é mais que um simples livro acadêmico da verdade divina, um Euclides da Fé Cristã. O texto não é apenas dado por Deus, mas por Deus, seu Autor, é aplicado. Devemos, pois, respeito e obediência à Bíblia, não por ser letra fixa e estática, mas porque, sob a orientação do Espírito Santo, essa letra é a Palavra viva do Deus vivo dirigida não só ao crente individual mas à Igreja em geral.
Adoção — Estudos Bíblicos
Tomar ou aceitar como filho ou filha alguém que não é tal por parentesco natural. A palavra grega traduzida por “adoção” (huiothesía) é um termo técnico, jurídico, que literalmente significa “colocação como filho”. — Veja Ro 8:15 n.

Nas Escrituras Hebraicas, a adoção não é considerada do ponto de vista dum procedimento jurídico, mas a idéia básica é apresentada em diversos casos. Parece que Abraão, antes do nascimento de Ismael e de Isaque, considerava seu escravo, Eliézer, pelo menos candidato a uma posição similar à de um filho adotivo, e como o provável herdeiro da casa de Abraão. (Gên 15:2-4) O costume de adotar escravos como filhos há muito tem sido uma prática comum no Oriente Médio, e estes, como tais, possuíam direitos de herança, embora não à frente dos filhos que descendiam naturalmente do pai.

Tanto Raquel como Léia consideravam os filhos nascidos de Jacó com suas servas como filhos delas mesmas, ‘nascidos sobre os seus joelhos’. (Gên 30:3-8, 12, 13, 24) Tais filhos eram herdeiros junto com os nascidos das próprias esposas de Jacó. Eram filhos legítimos do pai, e, visto que as escravas eram propriedade das esposas, Raquel e Léia possuíam direitos de propriedade sobre tais filhos.

O menino Moisés foi mais tarde adotado pela filha de Faraó. (Êx 2:5-10) Visto que os homens e as mulheres gozavam de direitos iguais sob a lei egípcia, a filha de Faraó estava em condições de exercer o direito de adoção.

Parece que não se praticava amplamente a adoção dentro da nação de Israel. A lei do casamento levirato, sem dúvida, eliminou em grande parte o motivo básico para a adoção de filhos: a perpetuação do nome parental. — De 25:5, 6.

Significado Cristão. Nas Escrituras Gregas Cristãs, a adoção é mencionada várias vezes pelo apóstolo Paulo com respeito à nova condição dos chamados e escolhidos por Deus. Tais pessoas, nascidas como descendentes do imperfeito Adão, estavam em escravidão ao pecado e não possuíam a inerente filiação de Deus. Através da compra por meio de Cristo Jesus, obtêm a adoção quais filhos e também se tornam herdeiros junto com Cristo, o Filho unigênito de Deus. (Gál 4:1-7; Ro 8:14-17) Não adquirem tal filiação de modo natural, mas pela escolha de Deus, e segundo a Sua vontade. (Ef 1:5) Ao passo que são reconhecidos como filhos de Deus desde o tempo em que Deus os gera por meio de Seu Espírito (1Jo 3:1; Jo 1:12, 13), sua plena obtenção deste privilégio como filhos espirituais de Deus depende de sua fidelidade até o fim. (Ro 8:17; Re 21:7) Assim, Paulo fala deles como ‘esperando seriamente a adoção como filhos, serem livrados de seus corpos por meio de resgate’. — Ro 8:23.

Tal estado adotivo traz benefícios de libertação dum ‘espírito de escravidão, causando temor’, substituindo-o pela confiança de filhos; de esperança duma herança celeste garantida pelo testemunho do Espírito de Deus. Ao mesmo tempo, lembra-se a tais filhos espirituais, pela sua adoção, que tal posição se deve à graça imerecida e à escolha de Deus, em vez de a seu direito herdado. — Ro 8:15, 16; Gál 4:5-7.

Em Romanos 9:4, Paulo fala dos israelitas carnais como aqueles “a quem pertencem a adoção como filhos, e a glória, e os pactos, e a promulgação da Lei”, e isto evidentemente se refere à posição ímpar concedida a Israel enquanto era o povo pactuado de Deus. Assim, Deus, vez por outra, mencionava Israel como “meu filho”. (Êx 4:22, 23; De 14:1, 2; Is 43:6; Je 31:9; Os 1:10; 11:1; compare isso com Jo 8:41.) A filiação real, porém, aguardava a provisão de resgate feita mediante Cristo Jesus e dependia da aceitação desse arranjo divino e da fé nele. — Jo 1:12, 13; Gál 4:4, 5; 2Co 6:16-18.
A Doutrina dos Livros Apócrifos

III. A DOUTRINA DOS LIVROS APÓCRIFOS

III.a A doutrina de Deus

À medida que o tempo avança, nota-se uma tendência em toda esta literatura para se frisar a transcendência de Deus. Parece evidente a relutância em mencionar o nome de Deus, para o que se empregam diferentes perífrases. Em 1 Macabeus, por exemplo, nunca se fala de Deus diretamente, mas em regra alude-se ao “Céu”. Vejamos o seguinte passo: “A vitória não depende da multidão dos exércitos, pois a força vem do Céu”. Deste modo compreendemos como é que o escritor judeu Mateus usa constantemente no seu Evangelho a expressão “reino do Céu” em vez de “reino de Deus”, tanto do agrado dos outros evangelistas. Os rabis não raro se referem a Deus, com expressões como esta: “Vais agora prestar contas ao Rei dos reis, o Único Santo, bendito seja Ele” (Pir. Ab. 4.29).

Pelo mesmo motivo se dá relevo à doutrina dos anjos, para evitar a necessidade da intervenção direta de Deus nos destinos do mundo. No Velho Testamento o Senhor é um “guerreiro” que luta ao lado de Israel. Em 2 Macabeus são os anjos que desempenham esse papel. Mas em 1 Macabeus nem Deus nem os anjos. É Judas em pessoa quem leva de vencida os poderosos inimigos, a salientar que não se exige uma intervenção direta de Deus, sobretudo em assuntos deste gênero. Do mesmo modo o contato direto de Deus com a criação no Velho Testamento é substituído por multidões de anjos, que se ocupam de todos os fenômenos da Natureza: da chuva, da neve, da luz, das trevas, etc. Por outro lado, naturalmente evoluiu também a doutrina dos demônios embora as causas sejam diferentes.

Não admira, pois, que se desenvolvesse extraordinariamente a doutrina da soberania de Deus. A consumação não só foi prevista, mas determinada com precisão. Os indivíduos participam deste processo de predestinação, mas sem qualquer prejuízo da sua liberdade. O autor dos Salmos de Salomão acreditava na absoluta soberania de Deus sobre o homem, mas não deixava de exclamar: “As nossas obras estão sujeitas à nossa alternativa e o poder de fazer o bem ou o mal estão nas obras das nossas mãos” (9.7). Do mesmo modo a transcendência de Deus não exclui completamente as Suas relações com os homens, e admite-se com freqüência a Paternidade divina. A frase: “O teu Pai que está no Céu” aparece em Pir. Ab. 5.23. Repare-se ainda nesta outra: “O Senhor alegrar-se-á nos Seus filhos e agradar-se-á dos Seus amados para sempre”. (Test. Levi 18.13 e 4.2; Or. Sib. 3.702; 3Mc 6.28; Pir. Ab. 3.19).

I.b A Lei

A lei é eterna e da máxima importância para o homem. Nos jubileus dizia-se que todos os justos observaram a Lei, tal como os anjos do Céu, de tal sorte que a missão de Moisés no Sinai não era apresentá-la pela primeira vez, mas sim promulgá-la de novo. É a súmula da revelação divina. Para muitos judeus, a Lei (Torah) incluía a tradição oral, que se dizia ter origem em Moisés e se propagou graças aos profetas e aos homens da Grande Sinagoga. Esta tradição admitia uma infinidade de aplicações da Lei a todas as circunstâncias possíveis (o Mishnah) juntamente com outras explicações (o Gemara), formando ambos o Talmude, de que se conhecem duas coleções: a de Jerusalém e a da Babilônia. É bem conhecida a atitude de Jesus Cristo para com estas tradições, mas a observância delas é fundamental para muitos judeus ortodoxos. Tanto os rabis como os autores dos apocalipses, eram unanimes em concordar que a salvação só dependia da obediência aos preceitos da Lei.

I.c A Sabedoria

Os atributos da Sabedoria, como os apresentam os Pv 8.22-31, eram bastante divulgados nesta época, tanto mais que a filosofia grega já fazia sentir no judaísmo a sua influência. Uma das mais belas referências à Sabedoria encontra-se na Sabedoria de Salomão (7.22-8.1), onde se diz ser o “espírito do poder de Deus, a emanação do Altíssimo, a irradiação da luz eterna, o espelho imaculado da obra de Deus, a imagem da divindade benéfica”.

Ao mesmo tempo aumentou a especulação do conceito da “Palavra de Deus”, desenvolvida sobretudo na Sabedoria 18.15-16: “Toda a Tua palavra poderosa saiu do trono real como um soldado valoroso, que, no meio da terra condenada, empunha a espada dos Teus mandamentos, fere de morte tudo o que encontra e, enquanto aponta o céu, o seu lugar é a terra”. Trata-se duma alusão à mortandade dos primogênitos no Egito. No mesmo livro a "Palavra" é identificada com a “Sabedoria”: “Ó Deus dos nossos antepassados, que pela palavra tudo criastes, e pela sabedoria formastes o homem...” (9.1-2).

Em face desta doutrina, podemos chegar à conclusão de que Lei e Sabedoria são uma e a mesma coisa. Reconhece-mo-lo facilmente em todos os livros, em especial no Eclesiástico e no Pirke Aboth. É o caso de Ben Sira com a sua pormenorizada descrição da Sabedoria no capítulo 24, dizendo: “Tudo isto compõe o livro da aliança do Deus Altíssimo, a Lei que Moisés nos confiou...” (Eclesiástico 24.23). O mesmo se passa com a Lei e a Palavra em Pir. Ab. 3.19: “Bem-aventurado é Israel, a quem foi confiado o instrumento que serviu para criar os mundos...”. Quem se dedica ao estudo do Novo Testamento não deixará de reconhecer a importância destes conceitos, que serviram de fundo ao Quarto Evangelho. E assim a Sabedoria, a Palavra e a Lei dos judeus cumpriram-se, segundo João, em Jesus encarnado.

I.d O pecado

Foi muito discutida a origem do pecado, tendo sido apresentadas várias soluções, em especial no que se refere ao grande desastre do Éden. Em alguns casos a culpa é atribuída a Eva (Eclesiástico 25.24), em outros a Adão (2Ed 7.118), ainda noutros ao Demônio (Sabedoria 2.24), e finalmente aos Anjos Maus (1 Enoque 10.7-8). Por outro lado, o autor de 2 Baruque não concorda com a atribuição da culpa aos nossos antepassados: “Embora Adão fosse o primeiro a pecar, por ele a morte se transmitisse a todos os seus descendentes, cada um de nós preparou no seu íntimo tal acontecimento... Adão é, pois, apenas o responsável pelo seu pecado, enquanto cada um de nós responde pelo seu, por sermos cada um o seu Adão em espírito” (2 Baruque 54.15 e 19).

Quanto à expiação por esse pecado, recorre-se aos sacrifícios, tal como no Velho Testamento. Mas não se dispensam as obras: “Aquele que honra o pai fará sacrifícios pelos pecados” (Eclesiástico 3.3); “A esmola livra da morte e purifica do pecado” (Tobias 12.9). É contra estas teorias que Paulo se insurge veementemente.

Recorre-se, ainda, aos méritos dos santos (2Ed 8.28-29), e o martírio dos confessores fiéis pode vir a expiar os pecados (4Mc 6.28-29).

I.e A Moral

A principal finalidade do homem é compreender e cumprir a Lei. Como disse um rabi: “Se praticares muito a Torah, não confies em ti, pois para isso foste criado” (Pir. Ab. 2.9). Numa época em que se considerava a Lei como a súmula da Revelação Divina, não admira que fosse geral essa maneira de pensar. Infelizmente, foram desastrosas as conseqüências desta doutrina da salvação pelas obras. É de ver como certo rabi chega a comparar Deus a um comerciante que dá crédito aos que guardam a Lei, e exige o pagamento das dívidas aos que não a guardam (Pir. Ab. 3.20). Há a frisar, todavia, um certo progresso relativamente à literatura moral do Velho Testamento. Várias vezes nos Testamentos dos doze patriarcas se faz a seguinte afirmação: “Ama o Senhor e o teu próximo” (por exemplo, no Test. de Issacar 5.2), antecipando-se assim à doutrina básica de Jesus.

Sobre o perdão das ofensas leia-se no mesmo livro o Test. de Gade 6.3-7: “Amai-vos uns aos outros de coração; e se alguém pecar contra vós, falai-lhe brandamente, não guardando contra ele rancor, e perdoando-lhe, se se arrepender e se confessar. Se o não fizer, porém não vos exalteis nem blasfemeis, para não pecardes também. Nem o censureis, porque pode ainda vir a reconciliar-se convosco. E mesmo que seja persistente no erro, perdoai-lhe de coração e deixai a vingança nas mãos de Deus”.

Textos deste teor são tão semelhantes à doutrina de Jesus, que há quem avente a hipótese de que o divino Mestre tenha conhecimento desses Testamentos. Nada de concreto, todavia. As máximas que versavam temas de moral não eram privilégio deste ou daquele rabi, sobretudo numa época em que era corrente a pregação.

I.f A Escatologia

É neste capítulo que mais se nota o desenvolvimento da doutrina da literatura apócrifa, em especial no que se refere à imortalidade pessoal, ao reino de Deus e ao Messias.

1) A IMORTALIDADE PESSOAL. Segundo o que podemos apurar, foi sempre corrente entre os israelitas a crença na vida além-túmulo. Tratava-se duma existência vaga, onde teriam acesso as almas, mas sem esperança de gozar da amizade de Deus. O Sl 88 é claro a este respeito, representando o Além como a “terra do esquecimento”, zona de “trevas” onde os mortos não gozam da amizade de Deus, porque foram “excluídos da mão divina”. Com tal conceito da outra vida, aquela existência não tem razão de ser: “Poupa-me, até que tome alento, antes que me vá, e não seja mais” (Sl 39.13). Atingiu-se, porém, uma noção mais clara desta doutrina, quando os santos de Deus refletiram mais a fundo na sua amizade com Deus e na experiência que alcançaram acerca da vinda do reino de Deus. Jó acredita por isso que depois da morte verá vingada a sua inocência (Jó 19.25-27) e o autor do Sl 139.8 afirma que se “fizer a sua cama no Seol”, ali encontrará Deus. Asafe no Sl 73.24-25, referindo-se à amizade de Deus, deseja-a não só no outro mundo, mas também neste. Tal doutrina, porém, não era geral. O saduceu Bem Sira, por exemplo, escreveu: “Dez, cem, mil anos, nada são comparados com o Seol, onde não há esperança de vida” (Eclesiástico 41.4). Segundo este texto não restam dúvidas que após a morte Deus se esquece das almas. Foram os antepassados dos fariseus que desenvolveram a doutrina dos filhos mais espirituais de Israel. Compare-se a doutrina de Cristo com 4 Macabeus 7.18-19: “Todos aqueles que de coração fazem da justiça o seu primeiro pensamento estão aptos a dominar a fraqueza da carne, podendo crer que não morrerão em Deus, como os nossos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, que não morreram mas viveram para Deus”. Voltemo-nos agora para a opinião oposta expressa por um rabi no Pir. Ab. 4.21: “Este mundo é como um pórtico diante do outro mundo que há de vir. Preparemo-nos para ultrapassar esse pórtico e entrar na sala do festim”.

Tais são as teorias dos apocalipses largamente espalhadas entre os judeus, mesmo no tempo de Cristo.

2) O REINO DE DEUS. No Velho Testamento é antecipado o Reino de Deus, passando a ser consumado nesta terra. É característica a famosa profecia messiânica de Is 11.1-9. Os autores de apocalipses anteriores desenvolveram indefinidamente esses textos e conceberam narrações fantásticas. Em 1 Enoque 10.17 e segs. diz-se que os justos terão uma velhice feliz e gerarão milhares de filhos. As sementes produzirão mil por um, etc., etc. Recorde-se a descrição do milênio de Papias baseado nesta fonte.

Em Is 65.17-22 fala-se duma renovação do céu e da terra, mas não nos é indicado o sentido dessa renovação, quer sob o ponto de vista físico, quer moral. Alguns autores de apocalipses do século I A. C. e do século I da nossa era supõem que o reino messiânico, embora estabelecido na terra, é de pouca duração e dará lugar ao reino eterno dos céus.

Em 2 Enoque diz-se que a história do mundo durará 7.000 anos, sendo os últimos mil o reino milenário, depois dos quais começará o reino eterno com uma nova criação (2 Enoque 32.2-33.2). Para este escritor é de grande importância o reino temporário. Mas em 2 Esdras já é menor essa importância, devido ao pessimismo do autor a respeito deste mundo; por isso restringe-o a 400 anos, no fim dos quais o Messias e todos os seres vivos morrerão (2 Esdras 7.26 e segs.).

Em presença deste último desenvolvimento, não admira que alguns autores tivessem abandonado a idéia do reino temporário messiânico e pensassem apenas no reino eterno dos novos Céus. O autor de 2 Baruque achou que esta terra era indigna do Reino de Deus: “O que agora existe nada é; o que há de vir, sim, é algo de grande valor. Porque tudo o que é corruptível terá um fim, e tudo o que morre desaparecerá, sendo esquecido todo o presente, de que não ficará qualquer lembrança, porque nele só há maldade” (2 Baruque 44 e segs.).

Em qualquer teoria que venha a ser adotada e relacionada com a natureza do reino, a vinda deste reino é geralmente considerada “catastrófica”, como no sonho de Nabucodonosor (Dn 2). Em alguns livros, todavia, a idéia geral é de que o reino atingiria a sua plenitude gradualmente (cfr. Jub 33 e 2 Baruque 73-74). No livro dos Jubileus, por exemplo, o Reino é concebido em moldes que levam à conclusão que a sua plenitude aumentará à medida que se conhecer e cumprir a Lei.

Do mesmo modo todos os autores de apocalipses esperam que o Rei apareça em breve, porque o fim está próximo. Em vários livros afirma-se mesmo que o grande dia será antecipado pelo arrependimento: “No dia em que Israel se arrepender, terá fim o reino do inimigo” (Test. Daniel 6.4). Por isso na Assunção de Moisés 1.18 o último dia é considerado “o dia do arrependimento, dia da visita do Senhor no fim dos tempos”.

Estes diferentes aspectos do Reino de Deus, como não podia deixar de ser, vieram afetar muito a teoria da imortalidade. Já que Deus pretendia estabelecer o Seu reinado, que abrangia não só a geração dos últimos dias mas também as de todos os tempos, veio a lume outra doutrina: a da ressurreição, já em vislumbre no Velho Testamento (cf. Is 26.19 e Dn 12.2-3). Surgiram depois as modificações. Se a ressurreição antecipada é para um reino de glória terrestre, naturalmente o corpo da ressurreição é da mesma natureza que o corpo atual. É assim que lemos nos Or. Sib. 3.179-192: “Deus reunirá os ossos e as cinzas dos homens e pela ressurreição torná-los-á como dantes”. Este fenômeno terá lugar no começo do reino; mas se se estivesse à espera do reino temporário, a ressurreição só poderia verificar-se no fim do mesmo. Tal é o caso do livro dos Segredos de Enoque, onde Deus diz a Adão que o levará da terra quando da “Sua segunda vinda” (32.1), isto é, ao cabo de 7.000 anos de história do mundo. Este autor parece que supunha a ressurreição como sendo espiritual e não meramente material. Ouçamo-lo: “O Senhor disse a Miguel: -Vai e despe Enoque dos seus vestidos terrenos, unge-o com o meu óleo suave e impõe-lhe o vestuário da minha glória” (22.8). Assim o autor da Sabedoria de Salomão, que não aguardava a realização terrena do reino, ocasionalmente supunha a ressurreição logo a seguir à morte. Não se tratava, porém, de teoria normalmente aceita entre os judeus da Palestina.

3) O MESSIAS. É curioso como alguns dos profetas do Velho Testamento não fazem qualquer alusão ao Messias (por exemplo, Amós, Sofonias, Naum, Habacuque, Joel). O mesmo sucede com alguns livros apócrifos, nomeadamente os 4 livros dos Macabeus, Judite, Tobias, 1 Baruque, Sabedoria, Assunção de Moisés e 2 Enoque. Segue-se na opinião de R. H. Charles, que nos livros proféticos e apocalípticos dos judeus, o Messias não era um fator fundamental no reino. Assim podia ser, embora não se admita em todos os casos mencionados que o silêncio dos autores supõe, necessariamente, que não esperem a vinda do Messias. A grande diferença entre a escatologia do Velho e do Novo Testamento é a relativa importância do Messias. Neste último, a escatologia anda inteiramente ligada à Pessoa e à obra de Cristo.

Nos textos do Velho Testamento em que o Messias desempenha um papel preponderante no reino, Ele só entra em atividade depois deste estabelecido, pois nem sequer é Ele quem o inicia. O Sl 110.1 resume perfeitamente essa posição: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à Minha mão direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés”. Assim, em muitos dos apocalipses o Messias não inicia a Sua atividade, enquanto o reino não estiver fundado. Apenas o livro de Enoque faz exceção a esta regra.

Quanto à origem do Messias segue-se a doutrina geral do Velho Testamento, fazendo-O descender da casa de Davi. Só os Testamentos dos doze patriarcas afirmam que a salvação provém de Levi e de Judá, e não apenas de Judá. Muitos comentadores apóiam a primeira opinião, tal como o Test. Rúben 6.7-12. Se bem que no Test. Judá 22 e 24 se insista em que o Messias nasce de Judá, os Testamentos dão a entender geralmente que a salvação vai surgir de Levi e Judá, e não apenas duma só tribo. A única interpretação satisfatória parece ser a que leva o autor a esperar dois Messias, e não um só. Baseia-se esta afirmação na narração pormenorizada das façanhas dos macabeus, que pertenciam à tribo de Levi, e também na importância ligada ao sacerdócio: “A mim deu-me o Senhor o reino e a ele (Levi) o sacerdócio, submetendo aquele a este... Assim como o céu é superior à terra, assim o sacerdócio de Deus é mais elevado que o domínio terrestre...” (Test. Judá 21.1 e segs.). A importância deste comentário, tão relacionado com o nascimento de Cristo, deve ter favorecido muito a pregação do Messias entre os judeus.

Quem mais se afasta, porém, da doutrina tradicional sobre o Messias é o autor das Comparações de Enoque (1 Enoque 37-71). O Messias já não é uma simples figura humana; é um ser transcendente, preexistente e superior a todas as criaturas, que surgirá no fim dos tempos para estabelecer um reinado. Aqui pela primeira vez se ouve falar de Cristo, do Justo, do Eleito, do Filho do Homem (cf. 1 Enoque 52.4; 38.2; 45.3; 46.1-6), atributos tão freqüentes nos livros do Novo Testamento.

Muitos foram os meios utilizados por Deus para preparar os caminhos do Senhor e atingir aquela “plenitude dos tempos” para a vinda do Seu Filho, conforme dizem as Escrituras. Neste sentido tais obras, referindo-se a esse Libertador, tiveram certa importância, porque contribuíram para explicar o grandioso plano de Deus.

A Evidência da Influência da Bíblia
Nenhum outro livro tem sido tão largamente disseminado, nem exercido tão forte influência sobre o curso dos acontecimentos mundiais do que a Bíblia. As Escrituras Sagradas têm sido traduzidas em mais línguas, têm sido impressas em maior número de exemplares, têm influenciado mais o pensamento, inspirado mais as artes e motivado mais as descobertas do que qualquer outro livro. A Bíblia foi traduzida em mais de mil línguas, abrangendo mais de 90% da população do mundo. Suas tiragens somam alguns bilhões de exemplares. Os bestsellers que têm vindo em segundo lugar, ao longo dos séculos, nunca chegam perto do detentor perpétuo do primeiro lugar, a Bíblia. A influência da Bíblia e de seu ensino sobre o mundo ocidental está bem à mostra para todos quantos estudam a história. O papel de forte influência desempenhado pelo Ocidente sobre o desenrolar dos acontecimentos mundiais fica igualmente evidente. As Escrituras judeu-cristãs têm influenciado mais a civilização que qualquer outro livro ou combinação de livros do mundo. Na verdade, nenhuma outra obra religiosa ou de fundo moral no mundo excede a profundidade moral contida no princípio do amor cristão, e nenhuma apresenta conceito espiritual mais majestoso sobre Deus do que o conceito que a Bíblia oferece. A Bíblia apresenta ao homem os mais elevados ideais que já pautaram a civilização. A evidência da manifesta indestrutibilidade da Bíblia. A despeito (ou talvez por conta) de sua tremenda importância, a Bíblia tem sofrido muito mais ataques perversos do que seria de esperar, em se tratando de um livro.

No entanto, a Bíblia tem resistido a todos os ataques e a todos os seus atacantes. Diocleciano tentou exterminá-la (c. 303 d.C); no entanto, a Bíblia é hoje o livro mais impresso e mais divulgado do mundo. Críticos da Bíblia no passado tachavam-na de composta, na maior parte, por historietas mitológicas, mas a arqueologia lhes comprovou a historicidade. Seus antagonistas atacam seus ensinos, tachando-os de primitivos e obsoletos, mas os moralistas exigem que seus ensinos a respeito do amor sejam postos em prática na sociedade moderna. Os céticos têm lançado dúvidas sobre a confiabilidade da Bíblia; todavia, mais pessoas hoje se convencem de suas verdades do que em toda a história. Prosseguem os ataques da parte de alguns cientistas, de alguns psicólogos e de alguns líderes políticos, mas a Bíblia permanece ilesa, indestrutível. Ela se parece com uma muralha de um metro e meio de altura por um metro e meio de largura: é inútil tentar derrubá-la com assopros. A Bíblia continua mais forte que nunca, depois desses ataques. Assim se manifestara a seu respeito o Senhor Jesus: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13.31). A evidência oriunda da integridade de seus autores humanos.

Não existem razões sólidas em que basear a idéia de que os autores das Escrituras não eram honestos e sinceros. Por tudo quanto se sabe de suas vidas e até pelo fato de haverem morrido por causa da fé que abraçaram, os autores da Bíblia estavam totalmente convencidos de que Deus lhes havia falado. Que faremos de mais de quinhentos homens (1Co 15.6) que apresentam como evidência da autoridade divina de sua mensagem o fato de terem visto a Jesus de Nazaré, crucificado sob o poder de Pôncio Pilatos, agora vivo e em perfeitas condições? Que faremos da afirmação deles, segundo a qual viram a Jesus cerca de doze vezes, num período de um mês e meio? e segundo a qual conversaram com ele, comeram com ele, viram suas feridas, tocaram-no, e até o mais cético dentre eles caiu de joelhos e clamou: “Senhor meu e Deus meu” (Jo 20.28)? Se alguém crer que estavam todos intoxicados ou iludidos, isso seria equivalente a violentar a própria credulidade, se considerarmos o número de vezes em que Cristo se encontrou com seus discípulos após a ressurreição e se considerarmos a natureza desses encontros, além do efeito duradouro que exerceram sobre os discípulos. Todavia, depois de aceitar o fato fundamental da integridade desses homens, ainda vemos diante de nós o fenômeno inusitado de pessoas — centenas delas— que enfrentariam a morte por causa da convicção de que Deus lhes havia concedido autoridade para falar e para escrever em nome do Senhor.

Quando homens sadios mentalmente, dotados de reconhecida integridade moral, reivindicam inspiração divina e oferecem como evidência o fato de haverem mantido comunicações com o Cristo ressurreto, todos as pessoas de boa fé, que buscam a verdade, precisam reconhecer a realidade desses fatos. Em suma, a honestidade dos escritores da Bíblia constitui comprovante da autoridade bíblica que reveste seus escritos. Outros argumentos têm sido formulados para comprovar a inspiração da Bíblia, mas os principais, os que sustentam o maior peso da defesa, são esses. Será que esses argumentos usados pelos críticos provam que a Bíblia não é inspirada? Não.

Não representam provas dotadas de conclusões racionais. Até mesmo um filósofo amador pode criar contra-argumentos que neutralizam a lógica da argumentação. E, ainda que tal argumentação comprovasse a não-inspiração da Bíblia, não se concluiria daí que os argumentos conseguiriam persuadir e satisfazer a todos. Em vez disso, temos evidências, testemunhos, testemunhas. Como testemunhos, precisam ser examinados para uma avaliação global. A seguir, o júri que existe na alma de cada pessoa deverá tomar sua decisão — decisão fundada não em provas racionais, inescapáveis, mas em evidências que ficam “acima de quaisquer dúvidas racionais”. Talvez tudo que seria necessário acrescentar aqui é que, se a Bíblia estivesse sob julgamento num tribunal, e fizéssemos parte do júri, e devêssemos apresentar um veredicto, com base num exame global, completo, das reivindicações e das credenciais alegadas da Bíblia como Escrituras Sagradas, inspiradas por Deus, seríamos compelidos a votar da seguinte forma: “A Bíblia é culpada de ser inspirada, conforme acusação”. O leitor também precisa tomar sua decisão. Para os que têm a tendência à indecisão, resta o lembrete incisivo das palavras de Pedro: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6,68). Em outras palavras, se a Bíblia — com sua reivindicação categórica de ser inspirada, com suas características incomparáveis e suas credenciais múltiplas— não for inspirada, então, a quem ou a que nos dirigiremos? É nela que encontramos as palavras de vida eterna.

Ano Sabático
O sétimo em cada ciclo de sete anos; durante este ano, no antigo Israel, a terra ficava de pousio, sem ser cultivada, e os hebreus não pressionavam seus patrícios a pagarem as dívidas.

Contado a partir de 1473 AEC, ano em que Israel entrou na Terra da Promessa, o ano sabático devia ser celebrado “ao fim de cada sete anos”, realmente, todo sétimo ano. (De 15:1, 2, 12; compare isso com De 14:28.) Evidentemente, o ano sabático começava com o toque de trombeta em 10 de etanim (tisri), o Dia da Expiação. Todavia, alguns sustentam que, embora o ano do jubileu começasse com o Dia da Expiação, o ano sabático começava em 1.° de tisri.

Não devia haver nenhum cultivo do solo, nem semeadura ou poda, nem qualquer colheita dos produtos, mas o que crescia por si mesmo era deixado no campo, à disposição para consumo pelo dono do campo, bem como por seus escravos, pelos trabalhadores contratados e pelos residentes forasteiros. Tratava-se duma provisão misericordiosa para os pobres, e, adicionalmente, para os animais domésticos e os animais selvagens, visto que estes também teriam acesso aos produtos da terra durante o ano sabático. — Le 25:1-7.

O ano sabático era chamado de “o ano da remissão [hashshemittáh]”. (De 15:9; 31:10) Durante este ano, a terra usufruía um completo repouso, ou remissão, permanecendo sem cultivo. (Êx 23:11) Devia haver também um repouso, ou remissão, das dívidas contraídas. Era “uma remissão para Yehowah”, em honra dele. Embora outros considerem isso de forma diferente, alguns comentadores sustentam que as dívidas não eram realmente canceladas, mas, antes, que o credor não devia pressionar o patrício hebreu a pagar a dívida, porque naquele ano o lavrador não teria renda; no entanto, o credor podia pressionar o estrangeiro a pagar-lhe. (De 15:1-3) Alguns rabinos sustentam o conceito de que as dívidas de empréstimos de caridade, para ajudar um irmão pobre, eram canceladas, mas que as dívidas contraídas em negócios eram de categoria diferente. Eles dizem que, no primeiro século da Era Comum, Hillel instituiu um procedimento pelo qual o credor podia ir ao tribunal e garantir a dívida contra o cancelamento por fazer certa declaração. — The Pentateuch and Haftorahs (O Pentateuco e as Haftorás), editado por J. Hertz, Londres, 1972, pp. 811, 812.

Este ano de livramento, ou de não se ser pressionado para pagar dívidas, não se aplicava ao livramento de escravos, muitos dos quais estavam em escravidão por causa de dívidas. Antes, o escravo hebreu era libertado no sétimo ano da sua servidão, ou no jubileu, qualquer quer ocorresse primeiro. — De 15:12; Le 25:10, 54.

Exigia fé guardar os anos sabáticos como parte do pacto de Yehowah com Israel, mas o pleno cumprimento do pacto resultava em grandes bênçãos. (Le 26:3-13) Deus prometera fornecer o suficiente na colheita do sexto ano para prover alimento para partes de três anos, desde o sexto ano até a colheita do oitavo. Visto que não se podia fazer semeadura no sétimo ano, só se podia fazer colheita no oitavo ano. (Veja Le 25:20-22.) Quando Israel entrou na Terra da Promessa, sob Josué, seis anos foram ocupados em subjugar as nações de Canaã e em alocar as heranças de terras. Naturalmente, durante este tempo, Israel não podia fazer muitas semeaduras, se é que podia, mas havia alimentos provenientes das safras dos cananeus. (De 6:10, 11) O sétimo ano era sabático, de modo que eles tinham de demonstrar fé e obediência por esperar até a colheita do oitavo ano, e, com a bênção de Deus, sobreviveram.

Em cada ano de remissão, durante a Festividade das Barracas, todo o povo devia reunir-se, homens e mulheres, pequeninos e residentes forasteiros, para ouvir a leitura da Lei. — De 31:10-13.

A terra teria usufruído 121 anos sabáticos, além de 17 anos de jubileu, antes do exílio, se Israel tivesse guardado corretamente a Lei. Mas os anos sabáticos foram guardados apenas em parte. Quando o povo foi ao exílio em Babilônia, a terra permaneceu desolada por 70 anos, “até que a terra tivesse saldado os seus sábados”. (2Cr 36:20, 21; Le 26:34, 35, 43) Em parte alguma dizem as Escrituras que os judeus haviam deixado de guardar exatamente 70 anos sabáticos; mas, Jehowah deixou que 70 anos de desolação obrigatória da terra compensassem todos os anos sabáticos que não haviam sido guardados.

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